Estamos passando por um período de transição demográfica, e isso, todos nós já sabemos. O crescimento da população acima de 60 anos vem sendo exponencial, entretanto, não é apenas o aumento demográfico que deve ser considerado, mas também o novo perfil dessas pessoas – afinal, não se faz mais idosos como antigamente.
No formato “tradicional”, os lares para idosos foram criados a fim de oferecer “sossego e repouso” aos que já estavam cansados e enfraquecidos. Essa definição, de modo geral, se afasta, e muito, do perfil das pessoas 60+ do século XXI. Encaixá-las em um espaço pensado exclusivamente para o ócio é alimentar o tédio, excluindo os pilares fundamentais para um envelhecimento ativo (saúde, aprendizagem constante, participação e segurança), considerado hoje a forma mais saudável de se aproveitar essa nova etapa da vida.
É neste contexto que se nota a ascensão dos modelos de cohousing destinados às faixas etárias mais elevadas. Trata-se de um novo padrão de vida que envolve o compartilhamento da moradia e dos cuidados com uma comunidade. Eles têm como proposta reestabelecer as vantagens das vilas tradicionais, dialogando com contexto do século XXI. Uma comunidade redefinida com pequenas vizinhanças planejadas e gerenciadas pelos seus próprios moradores.
Está certo afirmar que o termo cohousing não é novo, mas a sua aplicação para comunidades de faixa etária elevada, é. Como conceito, ele surgiu na Dinamarca na década de 1960 quando Jan Gudmand Hoyer, insatisfeito com padrão de habitação existente, reuniu amigos e propôs um novo modelo de moradia. Sua principal intenção era manter a habitação privativa, mas compartilhar espaços de convivência e atividades a fim de estimular o relacionamento entre os vizinhos.
Nos modelos destinados ao envelhecimento os preceitos são parecidos, já que, os seus moradores (ou sócios) idealizam e administram por conta própria o local onde vivem – geralmente volumes individuais integrados com amplas áreas comuns. Além disso, podem ser adicionados ao complexo espaços destinados à serviços básicos como farmácia, padaria, cabelereiro, tudo aberto à comunidade externa. O desejo principal é afastar-se da solidão e da dependência ao viver em um local acolhedor que recupera as relações de vizinhança e promove um envelhecimento ativo.
Eles são, portanto, arranjos que buscam preservar a autonomia e a individualidade das pessoas idosas, prevenindo também a imposição limitadora que caracteriza as instituições de longa permanência, marcadas – na maioria dos casos – por um significado vazio e generalizado de lar que acentua a impermanência e a eminência do fim. Nesse sentido, o formato de cohousing fomenta o aging in place ou “envelhecer em casa”, que nada mais é do que o direito de envelhecer na própria casa, com sua própria rotina e vizinhança onde se encontra facilmente apoio físico e psicológico.
Mas, o que a arquitetura tem a ver com isso?
O Senior Housing já se tornou um nicho no mercado imobiliário dos Estados Unidos voltado para produção imobiliária com público-alvo definido – os idosos –, e ele vem sendo explorado em diferentes lugares do mundo. Arquitetonicamente, a configuração espacial é um fator fundamental para o sucesso da empreitada que pode ser definida – em linhas gerais – por uma estrutura composta pela casa sede, estacionamento periférico, casas voltadas para um espaço comum e via central de uso exclusivo para os pedestres. Diferentemente de um condomínio fechado usual, esse formato entende as moradias como uma forma única e não cada lote como propriedade individual. Ademais, a autogestão também é um fator que diferencia os dois modelos. O Complexo Social Alcabideche, em Portugal, é um exemplo interessante desse formato, assim como o Kaze No Machi Miyabira, em Hiroshima. Além deles, listamos neste artigo outros projetos interessantes que abordam o tema de diferentes maneiras.
Como um desafio ao individualismo, a ideia do cohousing senior é facilitar a interação entre os moradores, criando uma comunidade. Mesmo com os volumes independentes, por meio dos quais é possível regular o grau de convivência conforme o desejo de cada um, tal configuração, exige um novo comportamento voltado aos processos colaborativos de uma vida compartilhada, com espaços públicos e eventos socias que ativam também o entorno urbano, mesclando hábitos antigos com ideias contemporâneas.
Neste artigo, apresentamos algumas diretrizes importantes que devem ser consideradas ao lidar com projetos desse gênero mostrando que, embora eles variem em formas, dimensões, localização etc., em todos é possível perceber uma preocupação com o suprimento das carências e limitações do público-alvo. Entre elas estão as necessidades físicas (mais facilmente identificáveis) relacionadas à espaços livres de obstáculos e de fácil manutenção; as informativas, que dizem respeito à forma como o ambiente é processado, ou seja, sua legibilidade e facilidade em fomentar diferentes estímulos; e, por fim, as necessidades sociais, que estão relacionadas a criação de um senso de comunidade e integração social.
Este último ponto aborda, principalmente, a questão da solidão crônica que, na população idosa, é incrivelmente prevalente com um número significativo de estudos observando o seu impacto na saúde, aumentando o risco de incapacidades, doenças cardíacas, derrames e demência. Nesse sentido, o cohousing oferece uma oportunidade de engajamento e interação, ao mesmo tempo em que permite aos moradores manter sua independência, revelando que, mais uma vez, o segredo do sucesso (e da boa arquitetura) parece ser a convivência.